sábado, 26 de fevereiro de 2011

O Zé alegria

*Havia uma fazenda onde os trabalhadores viviam tristes e isolados uns dos

outros. Eles estendiam suas roupas surradas no varal e alimentavam seus

magros cães com o pouco que sobrava das refeições. Todos que viviam ali

trabalhavam na roça do Sr. João, dono de muitas terras, que exigia trabalho

duro, pagando muito pouco por isso. *

*Um dia, chegou ali um novo empregado, cujo apelido era Zé alegria. Era um

jovem agricultor em busca de trabalho. Foi admitido e recebeu, como todos,

uma velha casa onde iria morar enquanto trabalhasse ali. *

*O jovem, vendo aquela casa suja e abandonada, resolveu dar-lhe vida nova.

Cuidou da limpeza e, em suas horas vagas, lixou e pintou as paredes com

cores alegres e brilhantes, além de plantar flores no jardim e nos vasos.

Aquela casa limpa e arrumada destacava-se das demais e chamava a atenção de

todos que por ali passavam. *

*Ele sempre trabalhava alegre e feliz na fazenda, por isso tinha o apelido

de Zé alegria. Os outros trabalhadores lhe perguntavam: como você consegue

trabalhar feliz e sempre cantando com o pouco dinheiro que ganhamos? *

*O jovem olhou para os amigos e disse: bem, este trabalho hoje é tudo que eu

tenho. Ao invés de blasfemar e reclamar, prefiro agradecer por ele. Quando

aceitei trabalhar aqui, sabia das condições. Não é justo que agora que estou

aqui, fique reclamando. Farei com capricho e amor àquilo que aceitei fazer.

Os outros que acreditavam ser vítimas das circunstâncias, abandonados pelo

destino, o olhavam admirados e comentavam entre si: “como ele pode pensar

assim?” *

*O entusiasmo do rapaz, em pouco tempo, chamou a atenção do fazendeiro, que

passou a observá-lo à distância. Um dia o Sr. João pensou: “alguém que cuida

com tanto carinho da casa que emprestei, cuidará com o mesmo capricho da

minha fazenda”. “Ele é o único aqui que pensa como eu. Estou velho e preciso

de alguém que me ajude na administração da fazenda”.*

*Num final de tarde, foi até a casa do rapaz e, após tomar um café bem

fresquinho, ofereceu ao jovem o cargo de administrador da fazenda. O rapaz

aceitou prontamente. *

*Seus amigos agricultores novamente foram lhe perguntar: *

*”O que faz algumas pessoas serem bem sucedidas e outras não?” *

*A resposta do jovem veio logo: “em minhas andanças, meus amigos, eu aprendi

que: não somos vítimas do destino. Existe em nós a capacidade de realizar e

dar vida nova a tudo que nos cerca. Toda pessoa é capaz de efetuar mudanças

significativas. Mas, o que geralmente ocorre é que, ao invés de

agirmos, jogamos

a responsabilidade do nosso insucesso nos ombros alheios. Sempre encontramos

alguém a quem culpar pela nossa infelicidade, esquecidos de que ela só

depende de nós mesmos”.

Excelência é sobretudo uma questão de talento

Para alcançar excelência organizacional, cada pessoa deve ser encarada como um centro de excelência e cada equipe como um centro de negócios. Cada subsistema deve adequar-se ao sistema total. A isto se chama alinhamento que permita conduzir à consistência e integração. E dentro dessa conceituação sistêmica, o resultado não deve constituir apenas a soma das partes envolvidas. Somar é fácil. O difícil é multiplicar. E a excelência é sem dúvida uma das decorrências desse emergente sistêmico que é a sinergia. Algo difícil, complexo, singular, específico, mutável, instável.
Contudo, para transformar cada pessoa em um centro de excelência é preciso que ela adquira competências individuais, técnicas e sociais através de uma aprendizagem constante e ininterrupta, seja liderada e impulsionada, seja direcionada para metas e objetivos, esteja engajada e motivada, receba incentivos e recompensas pelas suas conquistas e se sinta fazendo parte integrante da turma. Olhar cada indivíduo é importante por que cada pessoa é em si um universo, um mundo diferente, um poderoso sistema de aprendizagem e inteligência. Mas é igualmente importante ver o todo organizacional, ou seja, o universo de indivíduos e grupos, cada qual dando a sua parcela de contribuição. Este é um paradoxo da empresa moderna.

E tudo isso exige alguns cuidados a saber:

- Planejamento da gestão de pessoas no longo prazo para buscar a experiência, conhecimento e competências necessários a cada ação futura. Cada administrador deve ser mais do que um simples gestor de pessoas. A gestão do conhecimento corporativo deve estar presente na gestão das pessoas, pois afinal quem aprende não é exatamente a empresa – que é uma ficção conceitual ou legal – mas as pessoas que dela participam, pensam e reflexionam, tomam decisões, agem e avaliam seus comportamentos em função dos resultados alcançados. Uma das responsabilidades do gestor de pessoas é contribuir para que o conhecimento seja devida e rapidamente compartilhado e aplicado pela sua equipe. Conhecimento sem utilização de nada vale.

- Para obter resultados diferentes são necessárias competências diferentes e, muitas vezes, pessoas diferentes. Isso implica em fazer profundas mudanças nos tradicionais programas de recrutamento e seleção, onboarding, treinamento e desenvolvimento, incentivos e recompensas, sucessão, para acompanhar e aproveitar as mudanças que ocorrem no negócio da empresa, no mercado, na tecnologia, na concorrência, etc. Tudo isso precisa deixar de ser executado exclusivamente pelo RH e ser estendido a todos os líderes da empresa e, principalmente com a ativa participação dos principais interessados: todos os colaboradores da empresa. Sem eles, nada feito.

- Já que os negócios são globais e planetários, o treinamento e a capacitação precisam tornar as pessoas cidadãs globais e adequadas a diferentes culturas no cotidiano de trabalho. É preciso que as pessoas adquiram visão periférica e aprendam com o mundo exterior. Já dissemos que não se trata apenas de ensinar, mas de aprender. E isso envolve não apenas tarefas e atividades, mas acima de tudo fazer com que as pessoas pensem, reflitam, analisem, avaliem, ponderem, critiquem e façam melhorias que, quase sempre significam mudanças. Em outras palavras, utilizem seu órgão mais sofisticado: o cérebro. E seu desdobramento maior: a inteligência. Cada negócio frutifica em função das inteligências utilizadas.

- É preciso formar líderes de classe mundial, principalmente nas empresas que mantém operações ao redor do planeta para que conheçam melhor os mercados externos e saibam aproveitar as oportunidades de novos negócios. Afinal, administradores também são pessoas como quaisquer outras, mas com o agravante de precisar liderar, articular e impulsionar pessoas. O velho padrão de executivo autocrático ainda existe em muitas empresas que ainda não se deram conta da necessidade da liderança impulsionadora em todos seus níveis hierárquicos. A liderança de lideranças é o ponto de início nesta complicada jogada estratégica. O exemplo deve vir de cima. É lá que estão os modelos de comportamento a seguir.

- O desafio está em colocar todas as técnicas disponíveis em ação e suprir toda a cadeia de valor da empresa para fechar o ciclo do capital humano, que é o seu patrimônio mais valioso e o seu maior capital de risco. Capital humano se constrói com talentos. E apesar da recente crise mundial a guerra por talentos continua cada vez mais intensa assumindo novas formas e caminhos e com targets cada vez mais precisos. Mas a quantidade de pessoas está cedendo espaço para a qualidade das pessoas. É o velho pregão de fazer cada vez mais com cada vez menos. Competências individuais, gerenciais e funcionais estão sendo cada vez mais valorizadas no mercado, pois são a base das competências empresariais e constituem além dos produtos e serviços, métodos e processos e outros ativos fundamentais a sua principal vantagem competitiva. Lembre-se do velho ditado: quem não tem competência não se estabelece.

- Convergência é fundamental para obter foco em qualquer negócio. Mas ela costuma trazer junto o pensamento coletivo e de acomodação. Parece paradoxal, e é, mas é preciso também sair da caixa e estimular o pensamento divergente para alcançar imaginação e criatividade e, com isso, provocar idéias que tragam inovação. A cultura corporativa deve permitir flexibilidade na maneira como as pessoas pensam e agem, como elas se relacionam entre si e com o seu trabalho. Criatividade significa muito mais do que simplesmente quebrar regras vigentes. A criatividade conceitual – aquela que gera idéias que mudam conceitos e práticas – somente existe e funciona quando as pessoas possuem as seguintes características:

Fluência: representa a quantidade ou volume de idéias geradas.
Flexibilidade: é a capacidade de pensar em várias e diferentes direções.
Originalidade: é a habilidade de gerar idéias novas, especiais e originais.
Relevância: é a chave da diferença entre criatividade artística e a criatividade conceitual. A criatividade conceitual deve ter fluência, flexibilidade e originalidade, mas deve também identificar e produzir uma solução relevante e importante para um problema existente. Se não as pessoas serão apenas criadores artísticos preocupados com meras formalidades ou perfumarias. Em geral, as empresas se concentram em criadores artísticos e ignoram os criadores conceituais.


Toda essa formidável inteligência coletiva precisa ser devidamente identificada, localizada, aproveitada e posta em marcha para proporcionar as mudanças dentro de nossas empresas e ao longo dos sistemas sociais.
Idalberto Chiavenato